Estava em casa quando o primeiro avião atingiu as torres. A TV estava ligada na CNN e os repórteres estavam discutindo um suposto acidente aéreo. Vi o segundo avião bater no torre ao vivo. Eram 9:06 da manhã em NY e o mundo nunca mais foi o mesmo.
Quinze anos se passaram e ainda vivemos o dia seguinte dos atentados. Matar Osama Bin Laden virou uma página da história, mas estamos longe de acabar este capítulo. Cada político eleito e cada decisão relevante foi tomada tendo a nuvem de destruição do World Trade Center ao fundo.
Viajar pelo mundo, conhecer os bastidores da rede social e conhecer pessoas de mais de 50 nacionalidades me fez entender como estamos todos tão unidos e tão distantes uns dos outros. Nossos medos, preconceitos e angústias são muito parecidos.
Os atentados de 11/09 levaram o medo para dentro das nossas casas. Aquele lugar encantado em que passamos os melhores momentos com a nossa família e construímos nossas lembranças já não era mais tão seguro.
Diante deste cenário, temos algumas opções. Podemos colocar mais trancas nas nossas portas, erguer muros mais altos, contratar seguranças e evitar lugares perigosos. É exatamente esta a proposta do candidato do Partido Republicano, Donald Trump. Mas se todo mundo faz isso quando se trata de sua segurança pessoal, por que o plano do magnata americano soa tão idiota? Porque o nossa solução também é igualmente infantil.
A segunda opção parece um pouco mais adulta. Agimos de maneira mais consciente e passamos a fazer parte do nossa comunidade. Compramos produtos locais, ajudamos os pequenos negócios, fazemos voluntariado e buscamos integrar as comunidades carentes com acesso à saúde, educação e oportunidades de trabalho. Em uma escala nacional, países como Canadá e Austrália fazem isso ao receber imigrantes qualificados do mundo inteiro e integrá-los na sociedade. Mas esta solução apenas aumenta a nossa área segura e ameniza a situação de uma minoria qualificada e com dinheiro para fazer esta travessia para a civilização.
Quando a Chanceler Merkel abriu as portas da Alemanha aos refugiados no ano passado, apenas uma pequena fração da população afetada pela guerra conseguiu entrar. Mesmo os que foram a pé de Damasco até Berlim precisaram ter muito dinheiro no bolso para pagar guardas, coiotes, falsificadores de documentos, motoristas de caminhão, atravessadores e barqueiros.
Existe ainda uma maioria invisível que não consegue chegar na Austrália, Canadá ou mesmo na Alemanha. E eles não aparecem nos jornais. A bala perdida só é notícia quando se encontra no Leblon ou algum bairro de gente qualificada. Este é o muro invisível que divide a civilização, muito mais alto e impenetrável do que qualquer muro de cimento e tijolo.
A opção é incluir. E isto significa garantir que o maior número de pessoas tenham a oportunidade de perseguir a sua própria felicidade. Pode parecer piegas, mas este é apenas um trecho da Declaração de Independência dos Estados Unidos.
Mas a ideia de colocar o maior número de pessoas possível em segurança esbarra na tranquilidade de quem já está no lado civilizado do muro invisível. E é impossível não lembrar das críticas que Angela Merkel tem recebido dentro e fora da Alemanha por ter aceito a entrada de centenas de milhares de refugiados sem nenhum critério. Afinal de contas, no meio daqueles refugiados poderiam estar milhares de terroristas.
Mas nem mesmo a “Mutti” Merkel foi tão altruísta ao permitir a entrada dos refugiados sírios. A verdade é que a Alemanha conseguiu em menos de um ano, mão-de-obra jovem e qualificada para os próximos 25 anos. E sim, entraram terroristas disfarçados de refugiados e cabe agora à polícia alemã identificar e prender estes criminosos. Este é o novo paradigma de segurança nacional da Alemanha multicultural, a única superpotência mundial a fazer frente aos Estados Unidos. Neste sentido, o legado da Chanceler é de crescimento econômico recorde em meio a uma crise que se arrasta na Europa desde 2008.
Se o preço da eterna vigilância contra o terrorismo parece alto, basta olhar a opção que o Japão fez. Um dos países mais fechados para imigrantes está chegando aos 25 anos de estagnação econômica. Andar por Tóquio é como desembarcar de uma máquina do tempo na década de 80. Sem diversidade e pluralidade, os japoneses estão cada vez mais sozinhos, doentes e se matando de trabalhar para entregar resultados medíocres.
Agora, faltando apenas 8 semanas para as eleições americanas, temos dois candidatos que ainda acreditam ser possível reconstruir o mundo pré 11 de setembro. Construir um muro em volta dos Estados Unidos é admitir fraqueza perante o inimigo. Não se trata apenas de acolher aqueles que procuram uma vida melhor em território americano, abrir as fronteiras significa enfrentar e destruir em seu próprio território aqueles que tentarem fazer o mal a qualquer ser humano, seja ele americano, mexicano, sírio ou brasileiro. Este é o conceito de segurança nacional no século XXI.