O Welfare state é um conceito de governo em que o Estado tem um papel central no bem-estar da população. O maior Welfare state do mundo atualmente é a Alemanha.
Os Estados Unidos nos últimos 8 anos caminharam na direção do Welfare state. Na prática, o governo estava tomando mais responsabilidade do indivíduo (Obamacare), administrando o seu dinheiro (impostos mais altos) e incluindo as minorias na sociedade.
Para que o Welfare state funcione, como funciona na Alemanha, Holanda, Noruega e Dinamarca, o processo é lento e doloroso. Um monte de gente que trabalhou duro a vida inteira para alcançar o seu lugar tem que ceder a vez e deixar um monte de recém-chegados sentar lado a lado à mesa.
No início, tudo é muito tranquilo para os dois lados. Os que já estavam na mesa não se importam de dividir com os recém-chegados a comida que estava sobrando. O problema começa quando chega a sobremesa e os recém-chegados comem a maior parte do bolo. E, por fim, a paz acaba quando a conta chega e os velhos trabalhadores tem que pagar a conta praticamente sozinhos.
É difícil defender o Welfare state para qualquer pessoa que trabalhe duro para colocar comida na mesa. E também é difícil vender a ideia para quem está chegando na mesa agora. E isso se deve ao fato de que medimos nosso sucesso em relação ao fracasso do próximo e vice-versa. Para quem estava por cima, o sucesso parece bem menor (ou até mesmo um fracasso) quando o perdedor senta à mesma mesa. Por outro lado, o recém-chegado não consegue alcançar o mesmo lugar e também sente seu sucesso diminuído ou anulado.
Resumindo, existe um estágio no Welfare state em que fica ruim para todo mundo. E a democracia não perdoa isso. O povo americano votou contra este modelo de Estado. E um dos motivos para esta derrota do Partido Democrata veio da velocidade (ou a falta dela) em implementar as mudanças necessárias para o Welfare state. O Presidente Obama não conseguiu apoio do Congresso para passar as leis necessárias para o seu projeto e também não teve a ousadia necessária para defender abertamente a sua visão.
As primárias americanas ofereceram um candidato disposto a defender abertamente o Welfare state, Bernie Sanders. E ele conseguiu um tremendo apoio dos jovens com alto nível de educação. Isto porque os jovens estão dispostos a sentar à mesa já sabendo que irão pagar a conta. Mas é perfeitamente aceitável entender porque os mais velhos não gostaram da ideia. Afinal de contas, ninguém gosta quando as regras mudam no meio do jogo. Para quem trabalhou a vida inteira na regra antiga não é justo este novo arranjo.
Trump traçou um estratégia clara contra os recém-chegados. Primeiramente, propondo um muro para que mais imigrantes não chegassem pela fronteira do sul. Prometendo bloquear a entrada de refugiados sírios. Mas o mais importante, um candidato que se posicionou contra os direitos das mulheres e LGBTQ. Na economia, Trump prometeu mais barreiras e protecionismo nas relações com outros países, gritando e insultando tudo e todos.
Comparar a eleição de Trump ao Brexit é desproporcional. O Reino Unido não renegou o projeto da União Europeia, mas simplesmente se rebelou contra a autoridade do governo de Bruxelas. A eleição de Trump apaga completamente o legado de Barack Obama. São 8 anos de história jogados no lixo. E isso não se compara ao que está sendo proposto pelo Reino Unido, muito pelo contrário.
O fato é que os Estados Unidos estão em um estágio muto diferente da Europa. A população europeia é mais velha do que a americana, o que torna o velho continente mais dependente da mão-de-obra de imigrantes. A economia europeia não pode se dar ao luxo de incentivar o consumo desenfreado porque simplesmente não há recursos ou território para produzir mais.
Talvez Trump esteja certo e que seja possível que o país se feche e olhe para o próprio umbigo durante os próximos 8 anos. Pode ser que os EUA ainda possam crescer um pouco mais antes de se acomodar no seu tamanho final. O país pode crescer nos proximos anos com essa fórmula, mas não sem aumentar a desigualdade. As minorias terão que esperar até que o gigante dê seu último salto. Um salto em direção à consagração ou em direção ao abismo. Uma estratégia bem adequada a um showman e dono de cassinos. É o que os jogadores de pôquer chamam de All-in.