A cada viagem que faço, não consigo não ficar indignado com o turismo medíocre do Brasil. Depois de uma semana na Inglaterra, vejo como não aproveitamos nem um milésimo do nosso potencial.
O Brasil é um país a ser reinventado. Frank Sinatra ainda é a voz de Nova Iorque, mas a bossa nova de Tom Jobim parece ter sido esquecida pelo seu próprio povo.
Onde está o cesto de frutas na cabeça de Carmen Miranda? O Brasil parece ter vergonha do que foi e do que é. A Europa, o maior destino turístico do mundo, vive da sua história. Paris, tem como símbolo uma torre construída para a Feira Universal de 1889.
O primeiro passo é recriar uma imagem clara para o Brasil. Nós somos o Cristo Redentor, Pão de Açúcar, Corcovado e Copacabana. A nossa música é a bossa nova. É isto que está no imaginário do turista, a mesma nostalgia que faz milhões visitarem o muro de Berlim, sonharem com a Havana de Fidel e com as tradições milenares da Ásia.
O brasileiro tem vergonha da Amazônia, não gosta de ser comparado com índio e quer exportar a imagem da metrópole cosmopolita de São Paulo. O turista não quer visitar uma cópia empobrecida de Nova Iorque, ele quer viajar no tempo e fugir da realidade nas suas férias.
Talvez o turista não se importe em tomar uma bala perdida se tiver a chance de viajar no tempo e sentar em um bar no Rio de Janeiro para ver a garota de Ipanema passar. O mesmo turista que enfrenta a precariedade do Vietnã, os perigos do Egito ou da Turquia para visitar locais históricos.
O Brasil errou muito feio no turismo nos últimos 30 anos. Não dá para levar a sério um país que tem Guarulhos como porta de entrada. O poderio econômico de São Paulo sequestrou o potencial turístico do país.
O Rio de Janeiro em crise, violento e inviável poderia viver só de turismo. Não precisa de royalty de petróleo. Temos que ser o país da Aquarela do Brasil, resgatar Ary Barroso e Tom Jobim.
O Brasil não é o país do futuro. Na verdade, esta ilusão de futuro só alimenta nossa constante decepção. Somos o país do passado e é hora de se orgulhar do que já fizemos e não do que poderemos fazer um dia. Glorioso ou não, nosso passado é o melhor que temos no momento e será muito mais fácil incentivar a nova geração com exemplos do que somos capazes do que ficar tentando copiar outros países e culturas.