194 anos de diplomacia jogados fora. É isso que o governo brasileiro propõe ao permitir a emissão de visto eletrônico à turistas de países “estratégicos” como Estados Unidos e Canadá. O Brasil sempre adotou a política de reciprocidade para a emissão de vistos. A medida proposta cria uma situação de submissão e beira o desespero do atual governo.
Para piorar, o Brasil permitirá até 100% de participação estrangeira nas companhias aéreas. O resultado desta abertura será uma réplica do que temos hoje no setor de automóveis. Um país refém de empresas estrangeiras e que não conseguiu sequer desenvolver uma montadora nacional. Engana-se quem acha que vamos melhorar a qualidade do serviço ou que teremos preços mais competitivos. O serviço obedecerá o mínimo estabelecido pela legislação, exatamente como ocorre com os fabricantes dos maravilhosos carros nacionais.
Provavelmente importaremos o fantástico atendimento ao cliente de empresas americanas como a United Airlines, que foi capaz de arrastar um cliente de dentro do avião devido ao overbooking. Os aeroportos do Brasil estão com cada vez menos voos. Voar do Rio para Maringá custa o mesmo que atravessar o Atlântico.
O Brasil parece nunca encontrar o fundo do poço. Parece que cavamos mais rápido do que conseguimos cair. Este tipo de abertura só vai servir para dar o filet mignon (leia-se Ponte Rio-SP) para os investidores estrangeiros e deixar a população andando de ônibus para os demais destinos.
O Brasil precisa abrir a economia e desburocratizar a vida dos empreendedores. Mas esta abertura da economia tem que vir acompanhada de transferência de tecnologia e know-how. Este tipo de ação do governo só vai gerar oportunidade para quem vem de fora.
Não adianta emitir visto eletrônico para o turista tomar um tiro em Copacabana e sair nos jornais do mundo inteiro. As pessoas não viajam para o Brasil porque tem medo de morrer e não por não gostarem de pegar fila no consulado. O programa Brasil +Turismo é mais uma piada pronta deste governo asqueroso.
E para quem acha que a concorrência vai reduzir os preços e aumentar a oferta, vai uma pergunta: onde todos esses aviões vão pousar? Eu já fiquei 45 minutos rodando no ar para pousar em Curitiba e tiver que voltar para Campinas. Nossos aeroportos estão saturados e não cabe nem mais uma agulha no GRU e na velha senhora GIG.
Outro detalhe importante é o custo-Brasil. Voar em território nacional custa 40% mais que nos EUA. E isso se deve aos encargos trabalhistas, impostos e tempo perdido em terra. Uma aeronave típica custa R$ 33.000 por hora, voando ou no chão. Mas ela só ganha dinheiro voando. Com a alta ineficiência dos nossos aeroportos não tem Ryanair que consiga vender passagem a R$ 1. Uma coisa é certa em tudo isso: o Brasil está voando em direção ao abismo.
O brasileiro médio nunca entrou em um avião. Parece absurdo, mas mesmo depois da popularização da aviação comercial no país apenas 35 milhões de brasileiros já entraram na sala de embarque. Também são 35 milhões o número de pessoas que não possuem água tratada em casa no país. 100 milhões de brasileiros não tem sequer acesso ao sistema de esgoto em suas residências. Poderíamos encher 250 Boeing 737 com as vítimas de homicídio em solo brasileiro por ano. São mais de 20 aviões cheios caindo por mês. Abrir o setor aéreo ao investimento estrangeiro e emitir visto eletrônico não vai ajudar em nada quem ainda vive no país.
Mais do que nunca, a única saída do Brasil é o aeroporto. O melhor investimento é comprar uma passagem só de ida para qualquer lugar e se despedir sem olhar para trás.