Greve 

As greves fazem parte do dia-a-dia dos europeus. Na verdade, muito dizem que fazer greve é o passatempo predileto dos franceses. A Catalunha, que possui uma forte influência da cultura francesa, não poderia ficar para trás. Começou hoje a greve de metrô em Barcelona, com redução dos serviços em até 40% na hora do rush uma vez por semana. Com isto, a frequência do metrô diminuirá para aproximadamente 7 minutos de intervalo das 7h às 9h e das 16h às 18h somente às segundas-feiras. Para reduzir o impacto da greve, a prefeitura aumentará a frequência dos ônibus no período.

Greves em serviços essenciais como transporte público sempre geram transtornos para a população, mas a redução controlada na oferta de serviços e a compensação com o aumento de alternativas para a população mostram como é fundamental que uma cidade não dependa somente de um único meio de transporte público.

A maioria das cidades brasileiras dependem quase que exclusivamente do ônibus e as paralisações no Brasil alcançam praticamente 100% dos serviços. O primeiro passo seria aumentar a oferta de transportes mais eficientes como trens e metrô. O ônibus deve ser utilizado somente para as etapas finais de deslocamento. O primeiro problema do ônibus como meio de transporte é a competição com o tráfego. Os ônibus tem baixa velocidade e são afetados diretamente por congestionamentos. O BRT, solução adotada em cidades como Rio de Janeiro e Curitiba, consegue reduzir este problema criando vias exclusivas para os ônibus. O segundo problema dos ônibus é a capacidade. Ônibus não são transporte de massa e não conseguem deslocar a mesma quantidade de pessoas que o metrô ou o trem. A solução paliativa para este problema é o aumento da frota e a criação de linhas expressas no BRT. No melhor cenário, um sistema de BRT bem estruturado e linhas alimentadoras otimizadas podem atender a população com uma qualidade similar ao metrô (modelo que Curitiba utiliza há décadas), mas não resolve a dependência exclusiva em único tipo de transporte. Para isto, as metrópoles devem investir em trens urbanos, metrô e VLT também.

O transporte público tem um papel fundamental na redução da desigualdade social e na empregabilidade da população. Morar bem na Europa, na maioria das vezes, significa morar perto do transporte público. O mesmo vale para New York, Tóquio e outras metrópoles ao redor do mundo. Os Estados Unidos coleciona o maior número de fracassos em política de transporte público, notoriamente em cidades como Los Angeles e Atlanta. Nessas cidades, a população passa horas em engarrafamentos diariamente e tem uma perda significativa de qualidade vida. Rio de Janeiro e São Paulo também figuram entre as piores do mundo quando o assunto é transporte e trânsito.

Rio e São Paulo precisam aumentar a oferta de transporte rapidamente. Desta forma, seria possível reduzir o caos em que estas cidades estão mergulhadas e também seria possível diminuir o nível de influência dos empresários de ônibus na gestão das prefeituras. A hora de fazer estes investimentos é agora, durante a crise no Brasil, para que o país volte a crescer de maneira mais sustentável. Um exemplo deste tipo de política está em Barcelona. A cidade continuou investindo pesadamente em transporte público durante a crise que devastou a Espanha deixando mais de 25% da população desempregada. Novas linhas de metrô foram inauguradas e o sistema de tram (VLT) está sendo expandido aqui na cidade. Cortes no orçamento são indispensáveis durante qualquer crise, mas a austeridade é como qualquer dieta, deve melhorar a saúde do paciente e não matar ele de fome. Neste sentido, o transporte público corresponde ao sistema circulatório do paciente. Sem ele, o coração da cidade para.

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